Amsterdã plant-based: onde comer bem na terra das tulipas

Com mais de 640 opções plant-based, Amsterdã tem uma gastronomia 6 vezes maior do que a cidade de São Paulo. Quando você embarca?

Terra das bicicletas, dos canais românticos, das tulipas e da gastronomia plant-based. Bem-vindo a Amsterdã. Entre as vitrines sedutoras do bairro da luz vermelha e as prateleiras dos mercados orgânicos como o De Aanzet, ficamos fascinados com a última: uma grande revolução alimentar está tomando conta da cidade.

De 2017 até aqui, houve 57% de aumento na oferta de “carnes” plant-based nos supermercados. No mesmo período, as vendas de carne caíram 9%, conforme dados da IRI Nederland.

Cannabis, que por ali nunca foi problema, não só frequenta os coffee shops como agora também vira iguaria na gastronomia local. E os cogumelos, ah, os cogumelos... Dessa vez eles estão alucinando mesmo: nas receitas e nos blends suculentos de hambúrgers veganos como o do Mr.& Mrs. Watson, que me inspirou a criar a receita no final desse artigo: Burger de Jaca com Cogumelos e Beterraba.

Uma trip mais que saborosa, de revirar os olhos de tão irresistível. Lá vamos nós de novo em mais uma expedição gastronômica, com o propósito de investigar e aprender sobre os costumes saudáveis das pessoas, suas escolhas alimentares e como elas moldam a longevidade de uma região, país ou cultura e, naturalmente, como impactam o futuro e a sobrevivência do nosso planeta.

 
 

Perguntas como…

O que os chefs andam fazendo? O que as pessoas estão comendo? Que tipo de ingrediente ou alimento é tendência? O movimento plant-based de Amsterdã cresceu ao longo dos últimos 8 anos. Antes disso não tinha nada tão expressivo. Acredite, agora tudo está fervilhando. O que aconteceu para as pessoas mudarem seu estilo de vida?
Por curiosidade, na semana que estivemos lá, um jornal de grande repercussão da cidade noticiou a redução de consumo de proteína animal. Existe apoio para a causa. A cidade está super antenada.

Há 5 anos a Holanda realiza a Semana Nacional Sem Carne, mobilizando mais de 50.000 empresas. Imagine um país inteiro focando o assunto. Nos mínimos detalhes, notamos grandes mudanças. No bairro em que ficamos, o De Pipj, a prefeitura está transformando vagas de carro em hortas urbanas. Saem os carros, entram as plantas.

 

"Ser carnívoro é apenas uma fase” diz a publicidade do Vegan Junk Food Bar.

 
 

Sai o queijo Gouda, entra o queijo plant-based

Nós, brasileiros, chamamos o país de Holanda, mas o nome oficial é Países Baixos ou Netherlands, justamente por ter quase 30% de suas terras e 60% da população abaixo do nível do mar.
Para um povo que soube reinventar seu território, otimizar seus campos com agricultura de alta performance e hoje supera em exportações agrícolas um país de dimensões continentais como o Brasil, não era de se esperar menos:

o governo holandês está focado em tornar o país líder em alimentação sustentável e saudável nos próximos 7 anos. Isso implica que até 2030 a comida dos holandeses será 60% plant-based.

Talvez isso explique o boom que ocorre em Amsterdã. Segundo o aplicativo Happy Cow, existem 640 estabelecimentos bem atentos ao fato de que 2 a cada 5 holandeses afirmam comer menos carne atualmente e 17% deles são vegetarianos ou veganos.

Posto isso tudo, vai ficar fácil entender como foi complexo, torturante, difícil, tomar nossas decisões de onde comer, às vezes comendo em três ou quatro lugares no mesmo dia, para não deixar escapar nada. E claro que escapou.

 

A vida em De Pijp

Antigo bairro da classe trabalhadora, De Pipj é multicultural, boêmio, efervescente, próximo dos principais museus de Amsterdã e com a maior feira de rua da cidade, o Albert Cuyp Markt. Nossa hospedagem foi estratégica. Perfeita para quem deseja ter um pouco de bairro, mas pertinho do centro.
Logo na chegada, fizemos a primeira lição de casa: passear pelo entorno e buscar as feiras de rua, os ingredientes locais, a banca dos pequenos agricultores, o supermercado orgânico e os restaurantes, bares e cafés plant-based do bairro. Pasme, em menos de 3 quadras de casa, tínhamos tudo isso por perto. É enlouquecedor!

Abastecemos a cozinha e despensa de nossa casa temporária no dia em que chegamos. Uma lição é não sair com fome para o mercado. Os mercados de Amsterdã estão tão avançados em comida vegana que é um perigo de tão bom. Muitas embalagens e produtos clean label, orgânicos e veganos. Mesmo abastecidos, no dia seguinte não resistimos: nosso primeiro café da manhã foi o “The Big Vegan Breakfast” do restaurante Greenwoodsscramble de tofu e curry, tomate e cogumelos grelhados, espinafre e beterraba, batata doce assada, couve-flor e pão na versão sem glúten.
No segundo dia, comemos em casa: mexidinho de tofu fermentado (nunca tínhamos visto pois geralmente só se encontra coagulado), que compramos no Ecoplaza. Preparamos com pitadas de curry, cogumelos assados, feijão e pepino em conserva, crackers de lentilha com pastas de homus e guacamole. Tudo orgânico e bem prático.

 
 
 

A caça ao tesouro: os vinhos laranjas

Uma estratégia para comer bem é descobrir quem tem vinhos naturais na carta. Geralmente o bar ou o restaurante que vende vinho natural oferece boa comida também. É o caso do Bar Centraal e do Glou Glou, que foram pioneiros na Holanda, abrindo caminho para mais de 35 novos estabelecimentos, entre enotecas, adegas e restaurantes como o Box Sociaal.

Vinhos naturais são feitos com uvas orgânicas cultivadas sem uso de químicos e, no processo de vinificação, sofrem zero intervenção humana. Em geral, usa-se leveduras selvagens e evita-se a adição de sulfitos. Nosso preferido é o vinho laranja natural não filtrado. Ele é branco com alma de tinto; suas cascas são usadas durante a fermentação. Quando o vinho é natural, seu aroma e sabor são bem característicos, lembra leveduras e frutas com intenso frescor.

Foi no Bar Centraal que comemos a perfeição de um ravioli de alcachofra de Jerusalém (sim, uma PANC, Planta Alimentícia Não-Convencional super prebiótica e saudável) cortada crua em finíssimas lâminas e recheada de creme de aipo com raiz forte, em seguida, marinadas em molho de azeite, café e tangerina. Um sabor inesquecível!

 

Vegetal é POP!

Existe uma rede de burgers veganos cujo nome revela o que você vai encontrar. É o Vegan Junk Food Bar. Definitivamente uma rede que bomba em Amsterdam. Não é barato, não é tão saudável assim, mas tudo bem, cumpre com certo propósito e por isso fomos conhecer. Provamos o lanche mais famoso, o Daddy Mc Chik’n no pão “unicórnio” ou “pinkblue”, feito com frango plant-based crocante, bacon e chedar veganos, alface, tomate, cebola roxa, cebola frita, pícles e molho da casa. Vale a visita e a experiência. No mínimo você vai se divertir e fazer algumas reflexões.

Como não falar de hambúrger e não mencionar batatas fritas. A nº1 com filas de gente se esbarrando é a Manneken Pis no centro histórico de Amsterdã. Servida em cones e com mais de 22 tipos de molhos de acompanhamento, comer essas fritas é uma instituição nacional. Para o turista, é como comprar um cartão postal com a diferença que você come.

Ainda na categoria “POP”, não poderia ficar de fora o Mastino, a primeira pizzaria vegana de Amsterdã. Indicada por nossa amiga Alana Rox, é destino obrigatório. A massa é tão macia que a gente nem acredita. Os queijos veganos são muito bons também. Tem até brie vegano! A gentileza vem de berço: duas italianas da Sicília e da Calábria à frente do negócio decidiram abrir a pizzaria após sacar que o mercado convencional estava saturado e sem diferencial. Sucesso absoluto. No final, a sobremesa veio de cortesia.

Se tudo isso não for pop o suficiente pra você, no fim da noite, após uma balada ou um dia exaustivo, sempre haverá o Maoz. Um fast-food vegetariano nascido na Holanda, onde você escolhe uma base de saladas e agrega proteínas vegetais como berinjela, falafel, humus de grão de bico e por aí vai.

 

Pronto para mais de Amsterdã e 3 receitas deliciosas pra você preparar em casa?

Como você já percebeu, a gente detalhou bem essa viagem. Por isso decidimos quebrar essa matéria em 2 partes. Não perca no próximo artigo:

  • Experiências que te abraçam em Amsterdã

  • Receita “Burger de Jaca com Cogumelos e Quinoa”

  • Receita “Bionese de abacate”

  • Receita de ketchup “Geleia de tomate”

 
 
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Amsterdã Parte 2: Experiências que te abraçam

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