A Grécia não-óbvia de Naxos: a cíclade grandiosa.

Quando você pensa em viajar para a Grécia, imagina imediatamente as famosas Santorini e Mykonos. Isso é normal, no entanto vale muito a pena sair também do circuito e conhecer outras ilhas. Foi o que fizemos, eu e o Alê, ao explorar outras ilhas cicládicas que compreendem Naxos, Paros, Antíparos, Tinos, entre tantas outras. Esse é o primeiro artigo da nossa turnê cicládica em 2022.

As Cíclades são um grupo de ilhas no norte do mar Egeu, que formam um círculo à volta da ilha sagrada de Delos.

Ficamos 3 noites em Naxos, uma ilha espetacular que agrada a todos que querem praia, arqueologia, mitologia e boa comida. E falando em comida, na ilha de Naxos você encontra comida excepcional, orgânica, alimentos oriundos da agricultura local como o grão de bico e a batata (reconhecida pelos gregos como a melhor da Grécia) e tudo a valores bem justos.

Primeiramente você precisa escolher onde ficar: próximo à praia, perto do porto e centro histórico ou em um vilarejo, por exemplo, erguido todo em Mármore. Dessa vez ficamos em Chora (nome grego para centro), onde é possível estar estrategicamente perto de tudo. Definitivamente você precisa de um carro para viver as mais variadas e deliciosas experiências de Naxos.

Viemos de ferry boat. O barco permite você transportar seu carro alugado, caso venha de outro destino. Ou você pode alugar em Naxos. A chegada na região portuária é confusa e divertida, com centenas de pessoas chegando e partindo. Já à noite, a região é repleta de bares, atrações e restaurantes à beira-mar.

Elegemos o aconchegante e familiar Nastasia Village Boutique Hotel, que nos surpreendeu pela hospitalidade e atenção da proprietária Emma Bardanis. Tão logo acomodamos as malas, Emma como uma verdadeira filha de Naxos nos apresentou as mais interessantes possibilidades de passeios e descobertas na ilha. Rapidamente nos conectamos em torno da gastronomia e da história de Naxos.

No primeiro dia, logo após o café do manhã Nastasia Village Boutique Hotel, que por sinal é regado de iguarias locais, fizemos uma caminhada até o Templo de Apolo, chamado de Portara. Em 20 minutos, você cruza o centro da cidade e já pode se divertir com as lojas de artesanato e comidas locais, como os queijos de Naxos que são riquíssimos, e definir a sua estratégia para a noite, as praças, a orla, as ruas dedicadas somente a pedestres, o comércio local. O templo de Apolo merece visita de dia e à noite, são experiências visuais diferentes.

De volta ao hotel, pegamos o carro e fomos até Alyko Beach com localização estratégica para jantarmos mais tarde na surpreendente Taverna Axiotissa no final do dia. Alyko é uma praia natural, linda e calma, sem serviço de quiosque e beach club, então leve toalha, canga, água, frutas e lanchinhos.

Para a Taverna Axiotissa, fomos recomendados pela Emma a reservar mesa. Trata-se do único restaurante em Naxos que você precisa reservar e, sim, vale muito a pena tanto que fomos duas vezes. Axiotissa provavelmente foi o restaurante mais conceitual da nossa turnê cicládica, com ingredientes orgânicos e queijos locais como o Graviera, o Kefalotyri e Xinomyzithra. Foi uma orgia gastronômica sem precedentes: saganaki (queijo frito com mel), salada naxiana, homus de grão de bico orgânico, antepasto de berinjela (melitzanosalata), cordeiro, porco e coelho, incluindo carta de vinhos gregos naturais. Visitamos no almoço e jantar, e tivemos a sorte de presenciar a cena de um pastor com suas ovelhas caminharem na frente do restaurante.

De volta ao centro de Naxos, conseguimos fôlego para conhecer e beber alguns dos melhores vinhos gregos locais e naturais, no bar de vinhos Oinochoros. Trilha sonora gostosa, público local frequente, rua tranquila e vinhos muito interessantes. Alguns vinhos laranjas também.

Não passaram batidas pra gente as opções sem glúten da cidade, como o famoso churrasco grego gyros no pão pitta sem glúten por 3 euros e a pizza sem glúten da Pizzadelia.

Para o dia seguinte, após boas conversas com Emma, seguimos a caminho dos vilarejos de Apollonas e Melanes, regiões onde estão localizadas as estátuas gigantes em mármore dos chamados “Kouros”, com cerca de 10 metros e construídas no século VII e VI antes de Cristo. Seus vilarejos são lindíssimos e foram erguidos em mármore também. A região é montanhosa com rochas de mármore e vale o passeio.

No passado os gregos construíam grandes estátuas em mármore por encomenda, e elas eram esculpidas nas próprias montanhas. Os arqueólogos acreditam que essas estátuas foram deliberadamente abandonadas pelos antigos escultores devido a falhas no mármore e na pedra com que foram construídas, defeitos ou quebras no transporte.

A maior parte dessas esculturas estão em museus mas você pode visitar essas estátuas que foram jogadas e esquecidas. São estátuas de meninos parcialmente nus, com cinto e botas num estilo com influências egípcias.

 

Saindo desses vilarejos, vá em direção a Moni para alguma iguaria grega ou simplesmente uma jarrinha de 500ml de vinho da casa rosé, feito de forma artesanal e ancestral. Logo na estrada você vai encontrar o charmoso To Peuko, onde paramos e também onde eu me irritei com o Alê porque ele não parava de trocar ideia com outros viajantes em vez de curtir a cena bucólica comigo.

Mas tudo bem, seguimos para a próxima parada: Halki. O vilarejo de Halki parece que parou no tempo, possui igrejas antigas, lojas de cerâmicas, mas o que vale mesmo a pena é a parada para almoço (fomos de moussaka) e para provar o melhor doce galaktoboureko da ilha, com autêntico café no método grego.

 Impressiona ver ao cair da tarde anciões e anciãs, amigos de longa data, reunirem-se nas cafeterias para colocar a conversa em dia e socializar, uma das características mais comuns entre povos longevos segundo o estudo das Blue Zones da National Geographic.

Partindo de volta ao centro de Naxos, decidimos ir a caminho de um lugar que nos chamou a atenção no primeiro dia, a Taverna Paradiso com suas lindas árvores chamadas “armiriki” proporcionando belas vistas e sombra para os visitantes. Por ali existe uma praia naturista que fomos visitar antes de fazer nosso happy hour na Paradiso, para celebrar o mais belo pôr do sol de Naxos.

 A Taverna Paradiso possui um cardápio de receitas típicas gregas que varia de moussaka, berinjela assada, cordeiro, saladas e frutos do mar grelhado na hora. O charme é chegar para o por do sol e ficar nas mesas da praia, pé na areia, ao redor de uma frondosa árvore com luzes que acendem após o por do sol. 

Uma grande surpresa para a manhã seguinte foi visitar o Templo de Deméter, deusa da agricultura e fertilidade da terra, a responsável pelo crescimento dos grãos. Uma visita obrigatória para os amantes da mitologia grega. De lá, seguimos para Apeiranthos, um vilarejo erguido em mármore, com lindíssimas ruas labirínticas, padarias seculares, comidas típicas, que ganhou o coração de Anthony Bourdain. O pai de Emma, nossa anfitriã, foi prefeito do vilarejo. Apeiranthos foi perfeita para drinks e almoço com vinho da casa e duas iguarias locais: o Zamboni (prosciutto local) e o Rosto (porco local lentamente assado) que comemos no Amorginos.

 Não é surpresa para você nem ninguém que comemos muito, experimentamos muito, quando viajamos. Ou seja, após a inesquecível Apeiranthos seguimos pelas sinuosas curvas em direção a Moutsouna. Vistas de arrancar o fôlego, medo de despencar com o carro no desfiladeiro entre montanhas áridas fenomenais, vertigem recompensadora.

 A estrada é lindíssima e vale cada minuto para comer frutos do mar frescos e desfrutar de lindas vistas de um mar intocável. Provamos os melhores mexilhões com vinho branco da viagem com pedacinhos de queijo feta. E, como na Grécia a sobremesa muitas vezes é cortesia da casa, a panacotta de iogurte grego veio para coroar o dia, a aventura, a escolha por Naxos.

Ficamos no total apenas 3 noites em Naxos e fizemos um verdadeiro milagre com o tempo. Nada disso teria sido possível sem a hospitalidade de Emma e nossas pesquisas prévias. Comparado a Mykonos e Santorini, os restaurantes e bares são muito mais convidativos em termos de preço. Se a gente voltaria a Naxos, certamente que sim!

 
 
 
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