Além do Croissant e do Fish’n’Chips: Onde comer saudável em Paris e Londres

Um autêntico viajante deve ter sempre uma boa dose de afeição pelo acaso. Foi o que fizemos, eu e Alexandre, nesta viagem a Paris e Londres. Deixamos que essas cidades nos surpreendessem em vez de (per)seguir um roteiro fixo - o que às vezes também é interessante e seguro.

Paris é a cidade com a gastronomia mais conservadora que conhecemos, mas desta vez descobrimos sabores mais leves e saudáveis. Já a comida inglesa, vamos lá, pouco ouvimos falar bem de suas qualidades mas certamente existem. Mas assim como em Paris, tivemos a carinhosa mão do acaso zelando por algumas experiências que se revelaram grandes surpresas.

Tudo começou no ótimo custo-benefício do restaurante do estrelado chef Alain Ducasse, o Spoon2, anexo ao belo Palácio Brongniart na Place de La Bourse. Lá a comida prestigia a culinária estrangeira, sobretudo das Américas e da Ásia, chegando à mesa, em um estilo mais leve, mais fresco e em porções para compartilhar (ao contrário do que os franceses mais fazem, isto é, cada um com o seu prato), como se você fosse um viajante de passagem. Uma comida funcional e balanceada.

 

No estrelado do chef Alain Ducasse, o Spoon2, anexo ao belo Palácio Brongniart na Place de La Bourse.

 

Outra experiência notável foi no restaurante grego YaYa. A comida é toda preparada com azeite orgânico de terroir grego de excelente qualidade. Provamos um dos melhores tzatziki de nossas vidas, além de um suculento polvo grelhado.

Paris é tão cosmopolita que nos apresentou uma das melhores pizzas à moda napolitana, na versão gluten-free, no simpático, pequeno e disputadíssimo Biglove Caffe. Ali só trabalham italianos, o que revelou a competência no assunto. Amigos queridos no Brasil já haviam “cantado a bola” e foi gol na certa. Servido em louças de cerâmica de Taormina (Sicília), provamos o spaguetti com lagosta ao molho de tomates frescos e as pizzas sem glúten. Pela primeira vez fora da Itália sentimos o sabor dos molhos autênticos italianos.
Paris também nos ofereceu o melhor de seu clássico na versão mais saudável, como os crepes, ou melhor, as galettes de trigo sarraceno sem glúten. Para algo mais sofisticado, vá ao Breizh Café, com um menu de cidras orgânicas de tirar o fôlego. No entanto, por muito menos euros (e menos empáfia), encontramos a nossa crêperie de rua, a deliciosa Chez Marie Madeleine, encostada no Centre Georges Pompidou. Tudo ali é “fait maison”, isto é, feito em casa com receita guardada a sete chaves. Fomos muito bem tratados e você pode montar o recheio que quiser, usando as melhores opções saudáveis.

Evidentemente, não poderíamos deixar de recomendar a Huitrerie Regis, na 3 Rue de Montfaucon, com suas ostras fresquíssimas acompanhadas de vinho natural. Uma osteria que virou até caso de estudo e literatura (Meet Paris Oyster: A Love Affair with the Perfect Food). Entre mesas apertadas, clientes se espremem felizes saboreando “fines de claires”, “speciales de claires”, sem desconforto algum. Fica a dica: a temporada da ostra são os meses com a letra “R”. Como em dezembro e janeiro, época de nossa viagem.

Já em Londres, nosso ponto de chegada é sempre Notting Hill. Temos o ritual de tomarmos o nosso Aperol Spritz no Negozio Classica (283 Westbourne Grove), com uma porção de suculentas azeitonas italianas. Nem na Itália, encontramos essas mesmas azeitonas graúdas e frescas ou um Aperol tão bem feito. Infelizmente ao término desse artigo, soubemos que o bar fechou definitivamente.

Também em Notting Hill nos deparamos com inúmeros restaurantes orgânicos, veganos e preparados para atender todas as restrições alimentares. Pudemos notar que a maioria possui legendas no menu, assim como o Renato sempre fez em seus restaurantes no Brasil. Um bom exemplo é o restaurante Farmacy de comida saudável, orgânica e várias opções plant-based. Foi lá que provamos o smoothie de maca peruana, café, lúcuma, tâmara, óleo de coco e leite de amêndoas, além de sucos alcalinizantes e um excelente veggie burguer com ketchup de Goji berry.

Por outro lado, Londres está deliciosamente infestada de estilos de comida vietnamitas, tailandeses, persas, árabes e indianas. Nosso indiano preferido é o Zayna, na 25 New Quebec Street, com uma comida muito bem feita, segura, aromática e reconfortante. No Viet Food, restaurante de comida vietnamita, na 34-36 Wardour Street, provamos uma das melhores combinações da viagem, um prato de vieiras saltedas na wok, com lâminas de abacaxi e pimenta jalapeña.

A visita em Covent Garden é sempre indispensável, repleta de restaurantes descolados, orgânicos, veganos e no melhor estilo raw e crudivorista. Sempre passamos no Wild Food Café, que fica na pracinha mais charmosa e saudável da cidade, no Neal's Yard, para ver as últimas tendências. Provamos uma cerveja orgânica gluten-free deliciosa e uma torta mousse de hibiscos, frutas vermelhas, castanha de caju e pera, que deixou lembranças. Outra surpresa boa é o Balans Soho Society, onde provamos um inesquecível Red Curry de camarões e também os ovos Benedict com lagosta e avocado.

Para o turista de pegada saudável, é fundamental conhecer dois mercados locais e de pequenos produtores, o Borough Market em Southwark e o Daylesford Organic (há vários deste). Vale checar também o site do London Farmers Markets

Agora, se estiver com pressa andando pela rua, pode pegar um “take away” no Pret A Manger. Se estiver a fim de fazer umas comprinhas orgânicas, vá ao Whole Foods de Piccadilly. E jamais se esqueça: Londres e Paris serão sempre capazes de surpreender. Parafraseando (e parodiando) a máxima de Shakespeare, há mais coisas entre o croissant e o fish’n’chips do que pode imaginar nossa vã gastronomia. Mas se quiser provar o melhor fish’n’chips, fica a dica: o Poppies!

 
 
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